"Quem ganha em Minas, ganha o Brasil." Com algumas variações na forma, a expressão que abre este texto virou uma espécie de mantra no meio político. Desde 1950, quando Getúlio Vargas foi eleito presidente da República sem vencer no estado, todos os conquistadores do pleito nacional triunfaram também em solo mineiro. De olho nesse retrospecto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) vão dar, em Minas, os primeiros passos de suas campanhas para as eleições de 2022.
Bolsonaro escolheu Juiz de Fora, na Zona da Mata, para abrir, na terça-feira (16/8), uma série de incursões Brasil afora. Pesou, ainda, o fato de a cidade ter sediado o ataque a faca que o tirou das ruas há quatro anos. Lula, por sua vez, escolheu Belo Horizonte para recebê-lo na quinta-feira (18/8), dois dias após o início oficial da caça aos votos. O ex-presidente estará em um palco que conhece bem: a Praça da Estação, tradicional ponto de comícios petistas.
Minas tem 16,2 milhões de eleitores
Segundo maior colégio eleitoral do país, com mais de 16,2 milhões de eleitores aptos a votar, Minas é a menina dos olhos dos presidenciáveis. Bolsonaro e Lula devem usar as atividades desta semana para alavancar seus candidatos ao governo estadual.
Apoiado pelo presidente, Carlos Viana (PL) acompanhará o presidente da República na visita a Juiz de Fora, enquanto Alexandre Kalil (PSD) vai compor o palanque do líder petista em BH. Na semana passada, Felipe d'Avila (Novo) e Ciro Gomes (PDT) estiveram na capital, mesmo tendo cumprido outras agendas na cidade, em julho.
Os desenhos dos atos refletem as características dos candidatos. Na Zona da Mata, Bolsonaro receberá a bênção de lideranças religiosas e vai encabeçar uma motociata rumo à Praça Halfeld, no Centro juiz-forano. Lá, falará aos seus apoiadores. No PT, a ideia é utilizar a estrutura montada no Centro de BH para que Lula possa discursar ao público.
"Lula sempre tratou Minas com muita prioridade. É a síntese do Brasil. Historicamente, o estado sempre teve peso nas eleições presidenciais. O presidente sabe da importância de Minas", disse ao Estado de Minas o deputado estadual Cristiano Silveira, presidente do PT mineiro.
Palanque na Praça da Estação
Três palanques devem ser montados na Praça da Estação. No principal deles, estarão Lula e Geraldo Alckmin (PSB), seu candidato a vice. Além deles e de Kalil, o senador Alexandre Silveira (PSD), candidato à reeleição com o apoio dos petistas, também vai estar ali. Os quatro vão empunhar o microfone ao longo da noite de quinta. Nos tablados auxiliares, o PT vai posicionar candidatos à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa.
"Será um ato muito festivo, colorido e plural, na esperança de que Lula possa reconstruir o Brasil e melhorar a vida do povo. E, também, de esperança na preservação da democracia", projeta o deputado federal Reginaldo Lopes (PT), que coordena, em Minas, a campanha presidencial de seu partido.
Nova visita à Zona da Mata
Em Juiz de Fora, além de Viana, Bolsonaro deverá encontrar Cleitinho Azevedo (PSC), o candidato ao Senado escolhido por seu grupo político. Será a quarta vez, em cerca de um mês, que o presidente deixará Brasília (DF) rumo a Minas: a segunda em direção à Zona da Mata.
"A diferença entre o presidente e o candidato de oposição está caindo cada vez mais em Minas. Minha expectativa é a gente, com essas visitas, conseguir dar a mesma vitória que demos a Bolsonaro em 2018", assegurou o concorrente do PL ao governo
Os núcleos de Lula e Bolsonaro já planejam, inclusive, novas visitas da dupla ao estado. A tendência é que o presidente da República esteja em Belo Horizonte na sexta-feira (19/8) para a instalação do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6).
Do lado do PT, há debates sobre possíveis visitas da comitiva do candidato ao Planalto a outras regiões mineiras, como o Vale do Aço, o Leste e o Sul. Neste ano, Lula já passou por Uberlândia, no Triângulo, Juiz de Fora, na Zonas da Mata, BH e Contagem, na região metropolitana. Antes, porém, Reginaldo, Cristiano e representantes de partidos aliados, como Psol, PV, PCdoB e Avante, de André Janones, afinam as estratégias e a lista de oradores para o ato de quinta-feira.
O ‘pêndulo’ das últimas votações
Em 2018, o então candidato Jair Bolsonaro arrebatou a maioria dos eleitores mineiros. Quatro anos antes, porém, o triunfo tinha sido de Dilma Rousseff (PT). Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Fernando Collor, eleito pelo PRN em 1989, também já conseguiram vitórias no estado. Neste ano, segundo pesquisa do Instituto F5 Atualiza Dados, divulgada com exclusividade pelo EM no fim de julho, Lula tem 44,8% das intenções de votos em Minas, ante 31,5% de Bolsonaro.
Para Domilson Coelho, diretor-executivo do F5 e pós-graduado em ciência política, para além do alto número de votantes, Minas se destaca por não ter preferência ideológica definida. “O estado não tende a ser mais à direita, como em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, onde o histórico é mais conservador. Enquanto isso, Minas com o peso eleitoral que tem, varia de um processo eleitoral a outro."
Expectativa de recuperação
Mesmo com a necessidade de recuperar terreno no estado, os bolsonaristas mineiros confiam em um bom desempenho do presidente. “Vamos acompanhar a agenda do presidente (em Juiz de Fora) e, ao longo dos 45 dias (de campanha), todos nós temos a obrigação de pedir voto para a reeleição de Bolsonaro. Acredito que, com cada um fazendo seu papel, a gente vai ter um resultado muito exitoso em Minas”, crê o deputado estadual Bruno Engler (PL), que tentará a reeleição.
"Trabalhamos para ganhar a eleição. Podemos ganhar no primeiro ou no segundo turno. E, quando vai para o segundo, a frente é muito maior. Bolsonaro tem um piso muito alto para quem nada fez pelo Brasil, não respeita as instituições e a maioria do povo, (entre) 30% e 33%. Mas, também, tem um teto baixo: ao passar para o segundo turno, amplia um ou dois pontos", contrapõe o petista Reginaldo Lopes.
Estado também atrai a ‘terceira via’
Mesmo as chapas que reivindicam o título de "terceira via" também não se descuidam de Minas Gerais. No Novo, Felipe d’Avila aposta na "vitrine" proporcionada ao partido pelo governador Romeu Zema, seu correligionário. Ele, inclusive, esteve em BH em maio, retornou dois meses depois e, na semana passada, participou de evento empresarial na capital mineira. Ciro Gomes participou da mesma conferência e, em julho, passou por duas vezes pela cidade para eventos organizados pelos pedetistas.
O presidente do PDT em Minas, Mário Heringer, afirmou ter ouvido de Ciro o desejo de passar uma vez por Minas a cada semana da corrida eleitoral. Na sexta-feira (12/8), o presidenciável fez aceno aos eleitores do estado, classificado por ele como "dono da cultura política mais relevante da história brasileira".
"Quero muito que Minas entenda esse meu afeto, estima e identificação, porque, para mudar o Brasil, preciso reconciliar o povo brasileiro. E ‘reconciliação’ é a palavra-chave da cultura política de Minas", falou, mencionando figuras históricas como Itamar Franco, Tancredo Neves e Juscelino Kubitschek.
Simone Tebet, do MDB, fez gesto seme- lhante e, durante a convenção estadual de seu partido, recorreu ao jargão que chama Minas Gerais de "síntese do Brasil". Ao contrário dos trabalhistas, que têm palanque para Ciro por meio das candidaturas de Marcus Pestana (PSDB) e Bruno Miranda (PDT) ao governo e ao Senado, respectivamente, os emedebistas são integrantes da coalizão de Zema e Marcelo Aro (PP).
Por isso, não há campanhas majoritárias que possam dar sustentação à campanha de Tebet. Assim, segundo o deputado federal Newton Cardoso Júnior, presidente do MDB no estado, o plano é "pedir votos em todos ambientes possíveis".
Estadão