Expectativa na saúde mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reuniu ontem o comitê de especialistas em varíola dos macacos para determinar se a atual escalada de casos é uma emergência de saúde pública de alcance internacional, seu nível mais alto de alerta. A definição sobre o assunto, segundo a entidade, deve ser divulgada nos próximos dias. Nas últimas semanas, mais de 15.300 casos foram registrados em 70 países, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a agência de saúde pública dos Estados Unidos. Nessa escalada, o Brasil aparece na nona posição entre as nações com mais casos confirmados, de acordo com dados da OMS computados até 17 de julho, quando 384 registros da doença tinham sido notificados pelo país ao órgão internacional. Ontem, o Ministério da Saúde já contabilizava 592 casos confirmados. Em Minas Gerais, até as 11h, o total chegava a 33.
“Independentemente da recomendação do comitê, a OMS continuará fazendo todo o possível para conter a varíola dos macacos e salvar vidas”, adiantou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da agência da ONU, em entrevista coletiva na quarta-feira. Na primeira reunião, em 23 de junho, a maioria dos especialistas recomendou que o diretor-geral não pronunciasse a emergência de saúde pública de alcance internacional. Desde o início de maio, foi detectado um aumento incomum de casos fora dos países da África Central e Ocidental, onde a doença é endêmica, se espalhando por todo o mundo e com um grande número de casos na Europa.
A doença é endêmica nos seguintes países do continente africano: Benin, Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Gabão, Gana (identificada apenas em animais), Costa do Marfim, Libéria, Nigéria, República do Congo, Serra Leoa e Sudão do Sul. Descoberta pela primeira vez em humanos em 1970, a varíola dos macacos é menos perigosa e contagiosa do que a varíola, que foi erradicada em 1980. A maioria dos casos vem sendo detectada entre homens de 18 a 50 anos de idade.
DIAGNÓSTICO E VACINA Em 14 de julho, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (CEDC) registrou 7.896 infecções pelo vírus que provoca a monkeypox no continente. A agência de saúde trabalha em paralelo com os estados-membros e especialistas para avançar na pesquisa e no desenvolvimento em torno do vírus.
“Embora vejamos uma tendência de queda em alguns países, outros estão enfrentando um aumento e seis países registraram seus primeiros casos na semana passada”, afirmou Tedros Adhanom. Ele disse ainda que alguns países têm menos acesso a diagnósticos e vacinas, o que dificulta o registro e a interrupção dos casos quando os estoques de imunizantes estão baixos.
A empresa dinamarquesa Bavarian Nordic, o único laboratório que produz uma vacina autorizada contra a varíola dos macacos no momento, informou na terça-feira (19/7) que recebeu um pedido de 1,5 milhão de doses, a maioria para fornecimento em 2023, de um país europeu cujo nome não foi revelado. Já os Estados Unidos encomendaram 2,5 milhões de doses. Ontem, Nova York iniciou a imunização.
BRASIL Na abertura da reunião do comitê, a OMS divulgou que já foi notificada de 14.533 casos confirmados de varíola dos macacos no mundo, incluindo cinco mortes. O Brasil, segundo a entidade, está entre os países com mais casos confirmados: até 17 de julho, 384 infecçõeshaviam sido notificadas à OMS e o país ocupava a nona posição. Por esse levantamento, estavam à frente do Brasil: Espanha (3.125 casos), Reino Unido (2.137), Alemanha (2.110), Estados Unidos (1.965), França (912), Holanda (652), Canadá (604) e Portugal (515). A Itália aparecia na 10ª posição, com 374 casos. Já o Ministério da Saúde registra, até ontem, 592 casos da doença no Brasil.
O diretor-geral da OMS afirmou, ainda durante o encontro, que no momento “a grande maioria dos casos continua a ser relatada entre homens que fazem sexo com homens.” Ele disse ainda que esse padrão de transmissão representa “tanto uma oportunidade para implementar intervenções de saúde pública direcionadas quanto um desafio, porque, em alguns países, as comunidades afetadas enfrentam discriminação com risco de vida.”
E alertou para o risco de estigmatização dessa população por causa da doença. “Há uma preocupação muito real de que homens que fazem sexo com homens possam ser estigmatizados ou culpados pelo surto, tornando-o muito mais difícil de rastrear e interromper.”
O diretor-geral da entidade lamentou também a quantidade pequena de dados do oeste e centro da África – áreas em que a doença tem afetado a população em geral. “Essa incapacidade de caracterizar a situação epidemiológica nessa região representa um grande desafio para o desenho de intervenções para o controle dessa doença historicamente negligenciada.”
MINAS GERAISSegundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), Minas Gerais tem 33 casos confirmados de varíola dos macacos por exames laboratoriais feitos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em cinco cidades. A maior parte está na capital, com 27 casos confirmados e um provável. Além disso, são 48 casos descartados e 53 estão em investigação. Belo Horizonte é a única cidade mineira com transmissão comunitária. O último levantamento da secretaria foi feito às 11h de ontem. Os outros casos confirmados são de Governador Valadares (2), no Vale do Rio Doce, Juiz de Fora (1), na Zona da Mata, Mariana (1), na Região Central, e Serranópolis de Minas (2), no Norte do estado.
Segundo a SES/MG, os casos confirmados estão estáveis e alguns pacientes ainda cumprem isolamento até o término do período previsto. Além disso, todos são do sexo masculino, com idades entre 22 e 48 anos, em boas condições clínicas. Há ainda dois casos em acompanhamento hospitalar, devido à necessidade clínica e de isolamento. A secretaria afirma ainda que todos os contactantes estão sendo monitorados.
Questionada pela reportagem do Estado de Minas sobre medidas para tentar conter a transmissão da doença no estado, visto que já há caso de transmissão comunitária, a secretaria não se manifestou. Não respondeu também se pretende tomar medidas mais rigorosas caso a OMS decida classificar a doença como uma emergência de saúde pública de alcance internacional.
Saiba Mais
Evento extraordinário
Para a Organização Mundial de Saúde, emergência de saúde pública de importância internacional é “um evento extraordinário” que “constitui um risco de saúde pública para outro Estado por meio da propagação internacional de doenças” e por “potencialmente requerer uma resposta internacional coordenada”, como define no Regulamento Sanitário Internacional (RSI) — instrumento jurídico aprovado em 2005 por 196 países, em vigor desde 2007. Até o momento, a declaração foi atividada seis vezes, a última delas em 2020, devido à pandemia de COVID-19. As outras foram em função da propagação do H1N1, em 2009, duas vezes em 2014 – pelo ressurgimento da poliomielite e epidemia de ebola, surto de zika, em 2016, e nova epidemia de ebola, em 2019.