Os estragos estão por todo lado. O governador Romeu Zema (Novo), chegou a dizer que as estradas estão "talvez piores do que os buracos da Ucrânia" – numa referência ao país europeu invadido pela Rússia – mas tanto estaduais quanto federais parecem ter sofrido com minas e bombardeios em alguns pontos. Chamam mais a atenção a BR-040 (BH-Brasília), BR-381 e a BR-262, essa última intransponível até as praias preferidas de muitos mineiros no Espírito Santo devido a duas interdições.
Uma das imagens mais impressionantes das chuvas de janeiro foi no dia 24, quando a enchente do Rio Santana afundou mais de 600 metros do KM-96 da BR-262, em Abre Campo, na Zona da Mata. Enquanto a prefeitura do município e de outros ainda lutavam para tentar promover desvios, falhando ao encontrar terrenos movediços e lamaçais, no dia 14 de fevereiro a reportagem do
EM alertou que outros quatro trechos corriam perigo de desabamento. Um deles, no Km 149, antes da Ponte do Rio Doce, em Rio Casca, desmoronou em 9 de maio ampliando para dois os pontos de bloqueio total.
CAMINHOS DO MAR
A queda do barranco frustrou as operações de desvios. Ficou mais rápido fazer um contorno pelo estado do Rio de Janeiro para conseguir chegar ao litoral capixaba. O caminho alternativo amplia a viagem de 514 quilômetros para 629 quilômetros, podendo levar perto de 10 horas de deslocamento, passando pela BR-040, MGC-482 (Conselheiro Lafaiete), BR-120 (Viçosa), BR-356 (Coimbra), BR-393 (Itaperuna, no RJ), ES-297 (Bom Jesus do Norte, no ES) e BR-101 (Mimoso do Sul, no ES).
A BR-040, tanto para viajantes do sentido Rio de Janeiro, quanto de Brasília, exige atenção para as condições da pista, segundo os caminhoneiros e outras pessoas que trafegam com frequência nessa estrada. Todos os dias atravessando a BR-040 para transportar contêineres do Rio de Janeiro para Sete Lagoas, Lucas da Cruz, de 33 anos, conhece o perigo dos dois segmentos. "Para o Rio, o perigo maior são as pistas com descidas muito fortes e curvas muito fechadas de Congonhas e da Serra de Petrópolis. Tem muita neblina ali também e os pontos de acostamento viraram segundas pistas em muitos locais", afirma.
Para o caminhoneiro, o sentido Brasília, entre BH e Sete Lagoas, pode ser ainda mais perigoso. "É uma estrada muito traiçoeira. Escorrega demais, por rodar muita carreta de minério. Quando chove, o escoamento é bem ruim e causa muita aquaplanagem. Por isso, é comum vermos carros nessa vala central. Dá para sentir o carro puxando para a direção da vala. Tem de ter atenção", aconselhou.
O borracheiro Renato Carvalho, de 39, trabalha no Posto Chefão de Ribeirão das Neves e diz ser comum o atendimento a acidentados da BR-040. "Vem muita gente que vai parar dentro das valetas. (A pista) É um quiabo de tanto que desliza. Chega carro destruído, gente machucada esperando seguro. Alguns desses acidentes marcam a gente. Fiquei emocionado com o casal que o caminhão bateu e que estava muito nervoso, porque tinha um filho de 4 anos na cadeirinha atrás. Graças a Deus não se feriu", conta.
ABATIMENTOS
A rodovia também não escapa das feridas abertas pelas chuvas de janeiro e que até o momento não foram reparadas. Há abatimentos com desabamentos de parte dos acostamentos no sentido Brasília em Contagem (Km 525), Ribeirão das Neves (Km 510 e Km 509), Esmeraldas (Km 502 e Km 494) e Capim Branco (Km 488).
O maior abatimento de pista engoliu quase totalmente o acostamento do sentido Brasília, na altura do Km 510, em Ribeirão das Neves. Uma barreira de obstáculos de plástico zebrada foi postada sobre lonas para impedir as chuvas e uma trilha de sacos de areia para tentar desviar as enxurradas que podem saturar o terreno e levá-lo a desmoronar ou mesmo aumentar as erosões, com o mesmo efeito, avançando assim sobre a pista. Lonas foram abertas na parte inferior para proteger o solo exposto, mas já se encontram partidas em vários segmentos. Os fortes deslocamentos de ar pela passagem constante de grandes veículos pesados vão abrindo ainda mais rasgos ao fazer as proteções saírem voando. No Km 488, outro abatimento fica a apenas um quilômetro da Praça de Pedágio de Capim Branco e afronta o motorista que tem de pagar R$ 5,80 por eixo para rodar em uma pista avariada.
Crateras de risco na Serra do Cipó
Viajar pela estrada que corta a Serra do Cipó, na Região Central de Minas, é quase pegar um atalho para o paraíso: tem a cadeia de montanhas, profusão de cachoeiras, pousadas charmosas e ícones como a escultura do Juquinha, agora reproduzida em vários cantos. Mas o prazer do passeio fica interrompido – e se torna extremamente perigoso – com a quantidade de buracos na pista, entre os quilômetros 104 e 109 da MG-010, no município turístico de Santana do Riacho.
O risco maior está entre duas curvas, com crateras profundas, obrigando ônibus, caminhões e veículos leves a um zigue-zague na pista. Como não existe acostamento, os motoristas precisam desviar, entrar na contramão e levantar poeira fora da estrada. “Fiquei com medo de quebrar a suspensão do carro ou então furar um pneu. Está muito perigoso, devem olhar o trecho com urgência”, disse um motorista mostrando uma calota no chão.
Acostumada a visitar o Juquinha no fim do dia, Angélica Duarte, funcionária de um restaurante no distrito de Serra do Cipó, em Santana do Riacho, também pede providências. “Gosto de pegar a moto e ir até o Juquinha, que fica a cerca de 20 quilômetros daqui. Bom demais para relaxar. Mas como motorista não respeita motoqueiro, deixei o passeio de lado. Só volto, quando acabarem com os buracos”, contou Angélica.
Para quem não conhece a região, o monumento ao Juquinha homenageia a figura de um andarilho, e foi esculpido há 36 anos pela artista plástica Virgínia Ferreira.
SINUOSA
Ao trafegar pela rodovia, a equipe do
Estado de Minas viu a situação. “Sabe que até melhorou um pouco? Já foi bem pior. Todos se assustam, pois a estrada exige muita atenção por ter muitas curvas”, disse o condutor de uma caminhonete.
Num ponto de parada no distrito de Serra do Cipó, uma mulher explicou que enfrenta o trecho diariamente, por trabalhar numa pousada. “A gente passa aperto. Nossa região vem recebendo muitos visitantes e, com a proximidade das férias, a tendência é aumentar o fluxo. Já pensou um cartão-postal assim com tantos buracos?”, perguntou.
RESPOSTA
O Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER-MG) informa que iniciou, na semana passada, os serviços de manutenção da MG-010 no trecho de quatro quilômetros, do Km 104 ao 109, em Santana do Riacho, com a realização de remendos profundos para recompor o pavimento da rodovia, nos locais mais críticos.
Os trabalhos prosseguem durante os meses de junho e julho, e, onde for considerado necessário, serão efetuados serviços de manutenção rotineira, que compreendem outras atividades como tapa buracos, roçada e capina da faixa de domínio e limpeza do sistema de drenagem.
VERIFIQUE ANTES DE VIAJAR
Condições das principais rodovias mineiras
Anel Rodoviário de BH a João MonlevadeBR-381/BR-262BR-381 (Norte)/BR-262 (Leste)>> Trecho de cinco quilômetros de BH, Santa Luzia e Sabará traz lentidão nos dois sentidos e pode atrasar em mais de uma hora a viagem. São estreitamentos de pistas, radares de limite de velocidade, obras de reconstrução da pista que já duram seis meses, além de controle de tráfego em barreira da Polícia Rodoviária Federal (PRF)>> Queda de barreira bloqueia um sentido no Km 404, próximo ao acesso a Bom Jesus do Amparo pela LMG-776
João Monlevade a Governador ValadaresBR-381 (Norte)>> Asfalto ruim nas travessias de zonas urbanas de Bela Vista de Minas e Nova Era. Em Bela Vista, Km 342 com interdição parcial.>> Nova Era estrada com buracos e desvio na altura do Km 321, devido a intervenção parcial e desvio por estrada de terra em ambos os sentidos de via por colapso de barranco e movimentação do solo>> Km 299, em Antônio Dias, com interdição parcial e estreitamento de faixas no sentido Ipatinga devido a colapso do trecho
Governador Valadares a Porto SeguroBR-116 (Governador Valadares a Teófilo Otoni)MGC-418 (Teófilo otoni a Nanuque e Posto da Mata - BA)BR-101 (Posto da Mata a Eunápolis)BR-367 (Eunápolis a Porto Seguro)>> Boas condições de tráfego das rodovias, muito trânsito em áreas coincidentes com zonas urbanas
Belo Horizonte ao Rio de JaneiroBR-040 (Sul)>> Boas condições. Saída de BH com tráfego pesado de carretas de mineração até a altura de Congonhas.>> Pista sinuosa, com forte declive, inspira cuidados na descida de Congonhas e Serra de Petrópolis (RJ)
Belo Horizonte a BrasíliaBR-040>> Belo Horizonte a Capim BrancoAbatimentos com desabamento de parte dos acostamentos do sentido Brasília, em Contagem (Km 525), Ribeirão das Neves (Km 510 e Km 509), Esmeraldas (Km 502 e Km 494) e Capim Branco (Km 488)>> Capim Branco a CurveloPista considerada escorregadia com as chuvas. Necessidade de cautela e controle de velocidade>> Curvelo a Brasília com boas condições de pista e sinalização
Belo Horizonte a VitóriaBR-040, MGC-482, BR-120, BR-356, BR-393, ES-297 e BR-101>> Com duas interdições totais da BR-262 (Leste), no Km 149, em Rio Casca, e no Km 96, em Abre Campo, não tem valido a pena ir a Vitória ou Guarapari pela BR-262, com motoristas tendo de fazer um desvio de 115 quilômetros pelo Rio de Janeiro. Com isso, a distância passa de 514 quilômetros para 629 quilômetros. O desvio sugerido é pelas BR-040, MGC-482 (Conselheiro Lafaiete), BR-120 (Viçosa), BR-356 (Coimbra), BR-393 (Itaperuna RJ), ES-297 (Bom Jesus do Norte ES) e BR-101 (Mimoso do Sul ES)
Belo Horizonte a São PauloRodovia BR-381 (Sul-Fernão Dias)>> Tráfego intenso de veículos locais, pesados e de viagem na saída de BH, por Contagem e Betim. Trechos são recordistas de acidentes>> Estrada em boas condições. Na chegada a São Paulo, pode ocorrer nevoeiro na altura de Mairiporã. Tráfego intenso na Grande SP
RODOVIAS COM INTERDIÇÃO TOTALMGC-383 (Km 4) MGC-383 (Km 5) MGC-367 (Km 564) MGC-259 (Km 393) LMG-638 (Km 14)MG-158 (Km 21) MG-170 (Km 24,8) LMG-746 (Km 22) LMG-503 (Km 3) BR-262 (Km 149) BR-262 (Km 96)Fontes: PRF, PMMG, Dnit
Fonte: Estadão