Quadrilha Fogueira Viva foi fundada em 2016 no bairro Vila Embratel , na área Itaqui-Bacanga, na capital; Tema deste ano é 'Diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar'. Rainha gay marca quadrilha inclusiva junina em São Luís
Uma quadrilha junina que busca combater a homofobia. Essa é a ideia dos 70 componentes que fazem parte da Fogueira Viva, uma quadrilha fundada em 2016 no bairro Vila Embratel, na área Itaqui-Bacanga, em São Luís. Com o tema "Diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar", a quadrilha traz pela primeira vez a participação de uma rainha gay.
A personagem, um dos pontos altos da brincadeira na quadrilha, será interpretado pelo auxiliar administrativo, de 24 anos, Dawid Silva, que assumiu a sua homossexualidade desde os seus 15 anos. Para ele, é gratificante participar como um dos destaques.
"Eu nunca tive nenhum tipo de problema. Eu nasci para esse cargo, para ser a primeira rainha G da junina. Então, eu acho que é um cargo muito importante porque a quadrilha junina nunca teve na história dela uma rainha G e, este ano vem trazendo. O cargo foi feito para mim e eu me sinto lisonjeado", disse Dawid Silva.
Mas nem só de glamour vive o auxiliar administrativo. Para conciliar a maratona de ensaios, que começaram desde novembro de 2021, com a sua vida profissional, ele leva uma rotina que tem início ainda muito cedo. "É muito cansativo e pesado porque eu saio de casa às seis da manhã para chegar em casa às onze, pois eu já saio do trabalho direto para o ensaio. É bem cansativo, e ao mesmo tempo muito prazeroso porque quando a gente está no arraial e caracterizado para a brincadeira é uma sensação única".
Sobre a expectativa de se apresentar após dois anos afastado por causa da pandemia da Covid-19, Dawid diz que espera conscientizar a sociedade sobre a necessidade de respeitar o ser humano através da dança junina. "Eu espero passar para o público a questão do respeito não só com o gays, como também o respeito com os negros e com as religiões. A minha expectativa neste ano é conscientizar a sociedade para que a gente possa vive com mais harmonia".
Trabalho social
Quadrilha Fogueira Viva foi fundada em 2016 no bairro Vila Embratel em São Luís
Márcia Carlile/g1 MA
Além de alegrar e encantar o público com as suas apresentações, os integrantes da quadrilha Fogueira Viva também prestam trabalhos sociais para a comunidade onde vivem.
Segundo o fundador e presidente do Instituto Social e Cultural Fogueira Viva, Jadson Diniz, no local a comunidade tem acesso a diversas palestras socioeducativas. "Nós trabalhamos palestras socioeducativas, prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e ainda a prevenção contra a aids. Nós trazemos psicólogos para conversar com os nossos brincantes e também com a comunidade para esclarecer e tirar as dúvidas de todos".
Ele ressalta que o instituto é independente e se mantém através de colaborações. "Nós somos uma instituição independente e conseguimos realizar os nossos trabalhos por meio da ajuda do nosso próprio grupo. Nós realizamos rifas e alguns comerciantes que estão inseridos na nossa comunidade também nos ajudam dentro desse trabalho".
Saiba de onde vem a quadrilha
Quadrilha Fogueira Viva em apresentação em São Luís
Divulgação/Arquivo Pessoal
Originária dos bailes que ocorriam nas cortes europeias, a quadrilha junina foi introduzida no Brasil no início do século XIX, durante a transição do Império para a República, de acordo com a pesquisadora e graduanda do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Maitê Sousa.
"As quadrilhas juninas foram enraizadas no Brasil no início do século XIX, junto com a família real portuguesa, durante a transição do Império para a República e, tem a sua origem nos bailes das cortes europeias em meio a figuração da nobreza e, a popularização da quadrilha trouxe elementos imaginários do ambiente rural que já era predominante na natureza simbólica das festas juninas ligadas as celebrações pelas colheitas. As quadrilhas juninas estão presentes em diversas regiões brasileiras nos festejos realizados no mês de junho em celebração aos santos católicos Santo Antônio, São João e São Pedro", explicou a pesquisadora.
De acordo com Maitê Sousa, no Maranhão, as quadrilhas se encontram concentradas em cidades que ficam localizadas nas regiões do Centro ao Sul do estado. "No Maranhão, as quadrilhas e seus grupos mais numerosos se encontram em cidades que ficam do Centro ao Sul do estado, diferente da capital e cidades circunvizinhas e da baixada, onde os folguedos mais populares no período junino são os bois e seus diversos sotaques".
Fonte: G1