Número é bem maior do que o de 2019, antes da pandemia. Enquanto a venda de carros caiu 22% este ano, a de motos subiu quase 30%. Maio amarelo alerta para os acidentes e mortes no trânsito
O mês de maio está sendo dedicado a reduzir o número de acidentes de trânsito, que deixam mortos e feridos no mundo todo. Em São Paulo, os que envolvem motocicletas aumentaram muito em relação aos últimos três anos.
Cada passo que Wesley Rodrigues Soares, de 22 anos, dá é uma conquista. Há 20 dias, ele está fazendo reabilitação. Ficou um mês e meio em coma depois de um acidente de moto, quando ia para o trabalho.
“O trânsito parou, eu fui desviar e bati em um caminhão de frente”, relembra.
O motoboy teve traumatismo craniano, que afetou os movimentos, a memória e a fala. Estava de capacete, mas sem a fivela fixada.
“Jovem, mania de andar com isso daí aberto. Me ferrei, não adianta de nada. Na batida, saiu voando”, conta.
A mãe, Maria da Conceição Soares, é quem fica com Wesley o tempo todo.
“Estou muito feliz no lugar que estou com ele, no tratamento dele. Estar junto com ele, o vendo melhorar”, diz.
A Rede Lucy Montoro, ligada ao Hospital das Clínicas, é uma das referências na reabilitação de vítimas de trânsito. O último levantamento feito lá mostrou um dado muito preocupante: em 2021, praticamente seis em cada dez acidentados eram motociclistas - um número bem maior do que o de 2019, antes da pandemia. E a maioria, homens jovens, com idades entre 18 e 30 anos.
Entre as principais consequências dos acidentes estão a lesão de medula, que torna a vítima paraplégica ou tetraplégica. Em seguida, vem amputação e lesão encefálica.
Fabio David de Oliveira Filho faz parte dessa estatística. Ele estava voltando de moto para casa depois de uma festa. Por causa da chuva, derrapou e bateu de frente com um carro que vinha na outra mão.
“Me falaram que iam tentar fazer o possível para tentar salvar a minha perna, e não conseguiram. Aí veio a amputação”, diz.
Mais ágeis, mais rápidas e mais econômicas, as motocicletas se multiplicaram nas ruas durante a pandemia. Enquanto a venda de carros caiu 22% este ano, a de motos subiu quase 30%.
Para quem acompanha vítimas de acidentes com motos, o maior risco vem do estímulo à velocidade.
“A velocidade é sempre um fator de estímulo para o jovem e de competição. Esquece da vida e das consequências para todos”, afirma Linamara Rizzo Battistella, presidente do conselho de reabilitação da Rede Lucy Montoro.
Em São Paulo, algumas iniciativas para tornar o trânsito mais seguro têm dado resultado. Inaugurada há três meses na avenida 23 de Maio, uma das mais movimentadas da cidade, a faixa azul é de circulação exclusiva de motocicletas. Nesses três meses, aconteceram apenas dois acidentes: um sem vítima e outro com uma vítima leve.
Wesley tem um longo caminho pela frente, mas está determinado.
Repórter: Quer voltar logo para casa?
Wesley: Quero, mas eu quero voltar andando.