Gravações de câmeras de segurança obtidas pela TV Altero sa flagraram o momento da chegada dos suspeitos, a fuga e até a tentativa de incendiar os veículos utilizados na ação. As imagens mostram que, em determinado momento, quatro carros estavam à disposição dos assaltantes estacionados em uma rua próxima ao shopping. Nove pessoas são suspeitas de participar do crime e seguem fo- ragidas. De acordo com a PM, os ladrões levaram 13 relógios da marca Rolex, com preços estimados entre R$ 40 mil e R$ 300 mil, além de joias.
O consultor de segurança e proprietário da A.JUD Security Intelligence, Alexandre Judkiewicz, explica que a segurança em locais privados, como é o caso dos shoppings, tem limitações no sentido da prevenção. Ele aborda o tema usando como exemplo o emprego da tecnologia do reconhecimento facial. “A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é uma lei excepcional, ela precisa existir para a gente ter a segurança do uso de nossos dados, mas, por outro lado, cria barreiras. Por exemplo, dados pessoais para fazer alguns tipos de reconhecimento. Os shoppings não podem ter uma lista de pessoas foragidas ou de placas de carros furtados ou clonadas, por exemplo. Isso facilitaria o trabalho de prevenção”, avalia o especialista, autor do livro “Planejamento e gestão de segurança em shopping centers”.
Judkiewicz explica que o fluxo contrário de informações existe. Os shoppings repassam dados coletados pelo sistema de segurança para auxiliar nas investigações de crimes pelo poder público. Ele afirma que um convênio com as autoridades de segurança pública seria interessante para o trabalho de prevenção de crimes.
Os vigias de shoppings têm sua ação limitada à observação de um crime; apenas a partir do flagrante ele pode intervir. O que o especialista propõe é que mais informações sejam divulgadas para que a polícia seja acionada de forma preventiva. “Quando entra um carro roubado no shopping, e isso é identificado pelo sistema de segurança que tem acesso a uma lista dessas placas, o chefe do policiamento da área já pode ser acionado. A natureza da segurança privada deveria ser preventiva e não reativa. A parte preventiva é onde tem uma grande barreira entre público e privado”, pontua.
Vale lembrar que no caso do BH Shopping os assaltantes usaram carros roubados em São Paulo e com placas clonadas, segundo a Polícia Militar. Mesmo com limitações e sugestões para evitar crimes dentro dos shoppings, Alexandre Judkiewicz afirma que os centros de compra seguem sendo locais seguros, especialmente em comparação com o comércio de rua. “Não é porque houve um episódio ou outro que é um problema recorrente. A notícia de um grande assalto causa impacto, mas os shoppings evitam a maior parte dos crimes, principalmente os pequenos delitos, tão comuns no comércio, tanto para lojistas quanto para clientes”, avalia.
SENSAÇÃO “Vamos colocar primeiro o lado do shopping, que não mede esforços para a proteção dos empreendimentos por causa da preservação da experiência de segurança. É muito particular o trabalho de um vigilante de shopping, diferente da indústria, de outras lojas, de aeroportos. O guarda de shopping deve ser cordial porque faz parte da experiência, você não desassocia de fato a segurança da sensação de segurança”, afirma.
Segundo Judkiewicz, o trabalho em um shopping apresenta um desafio de não apresentar as estratégias de prevenção de crimes de forma tão ostensiva que assuste o cliente e crie a sensação de um ambiente em que a violência é recorrente. Ainda assim, é necessário que os vigias tenham a presença necessária para inibir possíveis criminosos, estes sim atentos às formas de atuar sem correr riscos. “O treinamento de um vigia de shopping é específico. Ele precisa ter uma técnica para persuadir o criminoso a desistir do delito, uma vez que não pode abordá-lo diretamente. E deve manter a sensação para o cliente de que está em um ambiente tranquilo e seguro.”
QUEDA NAS VENDAS A análise do especialista foi percebida na prática pelos lojistas do BH Shopping. De acordo com a Associação dos Lojistas dos Shoppings de BH e Grande BH (AloShopping), as vendas caíram pela metade do projetado na véspera do Dia das Mães e o fenômeno está associado à tensão vivida no momento do assalto.
De acordo com o diretor da AloShopping, Alexandre Dolabella, lojistas do centro comercial já manifestaram seu descontentamento com a situação e devem se reunir ainda nesta semana para debater melhorias no sistema de segurança do shopping.
“A segurança está incluída no valor do condomínio. Os lojistas arcam com 100% dos serviços do shopping como segurança e limpeza, e não é nada barato. Eles querem discutir a situação. As joalherias saíram das ruas para os shoppings para se sentirem mais protegidas e aí acontece isso?”, questionou Dolabella.
Apesar de tudo, a ausência de feridos após o episódio de sábado é algo a se comemorar. Para Judkiewicz, o trabalho da segurança é, antes de tudo, não aumentar o problema e proteger o cliente, o que terminou ocorrendo. O BH Shopping foi procurado pela reportagem para se posicionar sobre as técnicas de segurança empregadas no local, mas disse que não se pronunciará .
Sobre a possibilidade de seguranças usarem armas de fogo em shoppings, Judkiewicz disse que a estratégia depende da realidade de cada local, mas que o uso deve ser precedido de capacitação rigorosa dos vigias e não pode ser feito em ambientes com muita aglomeração, sob o risco de ampliar o problema ocasionado pelo crimes.
Fonte: Estadão