O pior desastre causado pelas chuvas até então, em 1988, deixou 171 mortos, número superado no temporal da semana passada. A maior quantidade de chuva registrada no município tinha sido em 1952, quando choveu 168,2 milímetros em 24 horas; na terça (15), foram 259,8 milímetros em apenas 6 horas. Tragédia em Petrópolis é a maior da história da Cidade Imperial
Petrópolis convive há décadas com temporais. E também com moradores em situação de risco.
A única cidade imperial das Américas também foi a primeira a ser planejada. A pesquisadora Rafaela Facchetti, da Fiocruz, explica que, quase 180 anos atrás, o engenheiro alemão Júlio Koeler já sabia que a área era sujeita a enchentes e deslizamentos e, por isso mesmo, projetou Petrópolis levando em conta uma série de regras.
“Ele estabelecia que os terrenos eram indivisíveis na sua profundidade, ou seja, deveria ter uma casa com afastamento da rua e uma única casa por lote. Então, toda essa ocupação de encostas não poderia acontecer”, explica a pesquisadora sobre o projeto de Koeler.
Mas, ao longo do tempo, Petrópolis sofreu uma mudança drástica na forma de ocupação da cidade. Uma combinação perigosa com a chuva que – historicamente – sempre caiu em grande volume sobre a cidade.
A maior quantidade foi registrada em 29 de agosto de 1952: 168,2 milímetros em 24 horas. A segunda maior em 1965: 162,8 milímetros. Depois 1972: 155,6. Até a última terça-feira, quando Petrópolis recebeu quase 260 mm em apenas 6 horas. Um recorde desde que o Instituto Nacional de Meteorologia passou a fazer a medição, em 1932.
Rafaela, que também é engenheira civil, disse que a chuva sem precedentes que caiu sobre a cidade na terça-feira não é a única explicação para a tragédia que os moradores enfrentam agora.
“A gente não tem uma política habitacional, de continuidade, as verbas para prevenção de desastre são poucas, burocratizadas, dependem de liberações e se perdem nos trâmites políticos”, afirma Rafaela Facchetti.
O registro mais antigo de uma enchente em Petrópolis é de 1850. Em 1930, um dilúvio deixou 30 mortos. Em 1966, uma sequência de temporais deixou 100 mortos e 200 casas destruídas.
Em fevereiro de 1988, 171 mortos, o pior desastre até então na cidade. Em maior ou menor intensidade, as tragédias atravessaram os anos de 2001, 2004, 2008 até 2011, quando a Região Serrana viveu o maior desastre natural do Brasil, com quase mil mortes; 76 em Petrópolis. Em 2013, 33 pessoas morreram. Agora, a tragédia da semana passada, a maior da história do município.
Estudos e diagnósticos sobre a ocupação da Serra do Mar não faltam. E Petrópolis tem um desses estudos, extremamente detalhado.
O documento é de 2017 e foi feito exatamente no primeiro distrito, a área mais atingida pelo desastre da semana passada. O plano para redução de riscos levantou a situação de mais de 100 comunidades da região central. Entre elas, o Morro da Oficina e a Rua Teresa.
As fotos mostram ocupações em áreas de altíssimo risco. O estudo aponta que mais de 15 mil moradias estão nessas regiões.
Nabil Bonduki, professor de Planejamento Urbano da USP, diz que, apesar da chuva histórica, as perdas poderiam ter sido menores se essas providências já tivessem sido tomadas. Mas solução definitiva, só com a transferência de quem mora em áreas de risco.
“Nós precisamos, nas nossas cidades, criar alternativas de habitação, principalmente em terrenos adequados para poder alojar a população de baixa renda, para quem está em situação de alto risco, para que possa ser realocado”, explica.
A Prefeitura de Petrópolis declarou que o plano de redução de riscos não foi feito pela atual gestão – e que o déficit habitacional é uma demanda de décadas. E ressaltou a importância da ajuda dos governos federal e estadual para implantar os projetos de habitação.
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Fonte: G1