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Estas foram as primeiras eleições em quatro anos que contaram com ampla participação da oposição, que boicotou pleitos passados. Após anos de boicote da oposição, a Venezuela voltou a realizar eleições regionais e municipais no último domingo, 21 de novembro de 2021Getty Images/Via BBCApós anos de boicote da oposição, a Venezuela voltou a realizar eleições regionais e municipais no último domingo (21).Um pleito marcado pelo alto índice de abstenção — apenas 40% dos eleitores foram às urnas —, que evidenciou a crise na oposição e reforçou o poder do chavismo como principal força política no país.Leia tambémEleição na Venezuela: Chavismo elege 20 dos 23 governadores e o prefeito de CaracasVenezuelanos votam em eleições regionais sob o olhar da comunidade internacional"Estamos no limbo há dois anos", dizem estudantes na véspera das eleições na VenezuelaCandidatos chavistas vencem em 20 de 23 estados em eleição regional na VenezuelaDos 23 cargos de governadores em disputa, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que está no poder, conquistou 20, enquanto a oposição venceu em três estados, afirmou o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Pedro Calzadilla.Segundo ele, o PSUV também levou a prefeitura de Caracas.Os demais resultados das chamadas "megaeleições" — outros 334 cargos de prefeito e centenas de vereadores — não foram divulgados no primeiro boletim, liberado à meia-noite de domingo.Apesar das inúmeras denúncias de irregularidades que supostamente favoreceriam o partido no poder, os dirigentes do CNE afirmaram que houve avanços em relação às eleições anteriores em termos de equilíbrio, transparência e respeito pelo voto livre e seguro.Eleição contou com observação de entidades internacionaisGetty Images/Via BBCAs eleições regionais e municipais de 21 de novembro foram as primeiras em quatro anos que contaram com ampla participação da oposição, que não reconhecia Nicolás Maduro como presidente desde 2018 e boicotou as eleições passadas por suposta falta de garantias.Desta vez, também houve uma observação imparcial do pleito, dado o interesse internacional em saber se o governo de Maduro poderia garantir a competição democrática.Entre os observadores de várias entidades internacionais, estavam a União Europeia, as Nações Unidas e o Carter Center, órgão especializado em processos eleitorais.Desde as eleições legislativas de 2015, em que a oposição venceu por ampla margem, a observação de entidades internacionais neutras havia sido reduzida até desaparecer.Se em 2020 estas comissões eleitorais justificaram a sua ausência por "falta de condições democráticas", argumento da oposição, agora, pelo menos a princípio, estão moderadamente satisfeitas.Renovação do CNEAlém disso, o pleito deste ano aconteceu após uma renovação inédita dos dirigentes do Conselho Nacional Eleitoral em busca de maior transparência.Desde 2006, o presidente do CNE é Tibisay Lucena, hoje ministro do gabinete de Maduro. E a representatividade dos reitores foi sempre questionada pela oposição, que tinha apenas um dos cinco representantes no corpo eleitoral. "As sanções dos Estados Unidos obrigaram o governo a ceder em várias áreas e esta renovação da CNE é uma delas", afirma Luis Vicente León, analista e pesquisador.Hoje, a oposição conta com dois dos cinco reitores do CNE.Apesar de dezenas de políticos estarem desqualificados, proibidos ou mesmo presos, a renovação da CNE tem sido vista como uma evolução sem precedentes nas últimas décadas.Alta abstençãoAs eleições não contaram com o voto dos venezuelanos no exterior, cerca de 4 milhões de pessoas — de um total de 20 milhões cadastradas — que, a princípio, são uma força-chave para a oposição, já que muitas saíram do país fugindo da crise.Ao longo do dia, foram registradas duas mortes e duas dezenas de feridos em eventos supostamente relacionados às eleições.Os venezuelanos foram às urnas em um momento raro para o país: após décadas de profunda polarização, a política deixou de ser uma das principais preocupações do povo e a dolarização de fato e a abertura econômica tornaram possível mitigar a crise, ativar produção e aliviar parcialmente as necessidades urgentes.Uma oposição em crise"As eleições atestaram os erros da oposição", disse o jornalista Daniel Pardo, enviado especial da BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, a Caracas."Por terem perdido força eleitoral em quatro anos de não participação, anunciaram sua participação muito perto da data da disputa e chegaram a ela divididos e brigados."A isso se soma que uma parte da oposição, liderada por Leopoldo López e Juan Guaidó, pediu a seus seguidores que não participassem."Em um país em que as pesquisas mostram que 20% da população rejeita o chavismo, os fracassos da oposição não se explicam apenas pelas vantagens da mesa eleitoral, mas também pelos erros de seu grupo", conclui Pardo.Henrique Capriles, ex-candidato presidencial e figura-chave no retorno da oposição à disputa, comemorou a participação de quase 9 milhões de venezuelanos."Assim que tivermos resultados totais por estados e municípios e a soma nacional, faremos o balanço necessário", declarou.Manuel Rosales, governador eleito do estado de Zulia, o mais populoso do país, acrescentou: "Hoje ficou demonstrado que Zulia é a terra de homens e mulheres aguerridos, pujantes e defensores da liberdade. Zulia, um povo heroico hoje, venceu a democracia e o engajamento triunfou. A esperança venceu!"'Fruto de um trabalho perseverante'O presidente Nicolás Maduro também se manifestou depois das eleições: "Exorto todos os representantes das organizações políticas a respeitarem os resultados e estendo a minha mão ao diálogo político e à reunificação nacional"."Conquistamos 21 prefeituras, entre elas Caracas, uma boa vitória (...) é o fruto de um trabalho perseverante e de levar a verdade com retidão a todas as comunidades", acrescentou.A campanha do partido no poder se concentrou em conquistas como a redução da taxa de homicídios e a solução da escassez com uma dolarização de fato.No entanto, a economia da Venezuela é hoje um terço do que era há 5 anos, a produção de petróleo diminuiu e a hiperinflação gerou uma desigualdade sem precedentes na história do país.Maduro também se referiu às sanções por acusações de corrupção e violação dos direitos humanos impostas pelos Estados Unidos a funcionários de seu governo. "Criamos consciência e continuaremos a retificar o que devemos retificar", disse Maduro.As eleições regionais, além de renovar os poderes locais, se tornaram simbolicamente um relançamento da chamada "oposição moderada" e uma medida de força diante do processo de negociação entre o governo e a oposição, que deve ser retomado em janeiro, no México.Veja os vídeos mais assistidos do g1 nos últimos 7 dias