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Ex-mensageiro da Al-Qaeda preso em Guantánamo denuncia ter sofrido tortura e abuso sexual por parte de interrogadores americanos


Majid Khan fez relato no tribunal em que está sendo julgado por crimes de guerra. 'Quanto mais eu cooperava e contava a eles, mais era torturado', disse. Majid Khan em foto de 2009

Reuters/Center for Constitutional Rights/Handout via Reuters

Um prisioneiro de Guantánamo que passou pelo brutal programa de interrogatório do governo dos EUA após os ataques de 11 de setembro o descreveu abertamente pela primeira vez nesta quinta-feira (28), relatando que ficou apavorado e chegou a ter alucinações com os métodos que a CIA por muito tempo buscou manter em segredo.

Majid Khan é ex-morador dos subúrbios de Baltimore, nos EUA, e se tornou mensageiro da Al-Qaeda. Ele disse no tribunal onde é julgado por crimes de guerra que foi submetido a dias de abusos dolorosos nas instalações clandestinas da CIA enquanto seus interrogadores tentavam arrancar informações dele.

Foi a primeira vez que qualquer um dos chamados “presos de alto valor” mantidos na base dos EUA em Cuba pôde testemunhar sobre o que os EUA chamaram eufemisticamente de "interrogatório intensificado", mas foi amplamente considerado tortura.

Khan falou sobre ficar suspenso nu em uma viga do teto por longos períodos, ensopado repetidamente com água gelada para mantê-lo acordado por dias. Ele descreveu que sua cabeça foi mergulhada na água a ponto de quase se afogar e em seguida teve água derramada em seu nariz e boca quando os interrogadores o deixavam subir para respirar. Ele foi espancado, recebeu enemas forçados, disse ter sido abusado sexualmente e passou fome em prisões no exterior, cujas localizações não foram divulgadas.

“Eu implorava que parassem e jurava que vão sabia de nada”, disse ele. “Se eu tivesse informação para dar, teria dado, mas não tinha nada”.

Khan leu um comunicado de 39 páginas na audiência que ocorreu na base dos EUA em Cuba.

Um painel de militares pode condenar Khan a 25 a 40 anos de prisão, mas ele ficará detido muito menos por causa de sua ampla cooperação com as autoridades dos EUA.

A prisão de Guantánamo, na ilha de Cuba

AP

Sob um acordo judicial, sobre o qual os jurados não foram informados, a sentença de Khan pelo júri será reduzida para não mais de 11 anos. Isso significa que ele deve ser libertado no início do ano que vem, reassentado em um terceiro país, ainda desconhecido, porque não pode retornar ao Paquistão, país do qual tem cidadania.

Parte do tratamento de Khan já foi detalhado em um relatório do Comitê de Inteligência do Senado, divulgado em 2014, que acusou a CIA de infligir dor e sofrimento a prisioneiros da Al- Qaeda muito além de seus limites legais e enganar os americanos com narrativas de interrogatórios úteis não comprovados por seus próprios registros.

Ex-presidiário de Guantánamo e outro estrangeiro são impedidos de entrar no Brasil pelo RS

Khan concordou com essa avaliação. “Quanto mais eu cooperava e contava a eles, mais era torturado”, disse ele.

Ele passou cerca de três anos em prisões clandestinas da CIA antes de ser levado para Guantánamo em setembro de 2006. Ele disse que nunca viu a luz do dia nesses lugares clandestinos e não teve contato com ninguém além de guardas e interrogadores desde sua captura até seu sexto ano no centro de detenção da base em Cuba.

Khan, de 41 anos, admitiu ter sido um mensageiro da Al-Qaeda e ter participado do planejamento de várias ações que nunca foram executadas. Ele se confessou culpado em fevereiro de 2012 de acusações que incluem conspiração, assassinato e apoio material ao terrorismo em um acordo que reduziu sua sentença em troca de cooperação com as autoridades em outras investigações, incluindo um processo contra cinco homens acusados de planejar e fornecer apoio logístico para os ataques de 11 de setembro.

Cidadão do Paquistão que nasceu na Arábia Saudita, Khan mudou para os EUA com sua família na década de 1990 e eles receberam asilo. Ele se formou no colégio nos subúrbios de Baltimore e trabalhou em tecnologia na área de Washington em um escritório onde pôde ver a fumaça saindo do Pentágono em 11 de setembro de 2001.

Ele diz que se voltou para a ideologia radical após a morte, no início daquele ano, de sua mãe, a quem ele descreveu como a pessoa mais importante de sua vida.

Khan se desculpou por suas ações e disse que assume total responsabilidade. Ele disse que agora só quer se reunir com sua esposa e a filha que nasceu enquanto ele estava em cativeiro. Ele disse que perdoou seus captores e seus torturadores.

Foto de 19 de janeiro de 2012 mostra dois detidos de Guantánamo acorrentados ao chão durante intervalo de recreação no Bloco A do Campo Seis da prisão, em Cuba

Jim Watson/AFP

“Também tentei compensar as coisas ruins que fiz”, disse ele. "É por isso que me declarei culpado e cooperei com o governo dos EUA”

Khan é o primeiro dos detidos de “alto valor”, aqueles que passaram pelo programa de interrogatório, a ser condenado e sentenciado nos tribunais militares mantidos na base.

Os cinco homens acusados pelos ataques de 11 de setembro incluem Khalid Shaikh Mohammad, que se autodenominou o arquiteto das ações. Esse caso ainda está em fase de pré-julgamento e um juiz disse que não terá início antes do ano que vem.

Os EUA mantêm 39 homens presos na Baía de Guantánamo.

G1

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